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O livro de Leander Kahney, que descreve a vida e a carreira de Tim Cook, será publicado em poucos dias. O trabalho originalmente deveria ser muito mais abrangente e incluía detalhes relacionados a Steve Jobs. Parte do conteúdo não apareceu no livro, mas Kahney compartilhou com os leitores do site Culto do Mac.

Localmente e perfeitamente

Steve Jobs era conhecido como um perfeccionista que gostava de ter tudo sob controle – a fabricação de computadores não era exceção nesse aspecto. Quando fundou a NeXT depois de deixar a Apple em meados da década de 1980, ele queria controlar e controlar perfeitamente a produção. Mas ele logo descobriu que não seria fácil. Leander Kahney, autor da biografia de Tim Cook, oferece uma visão interessante sobre a operação nos bastidores da NeXT de Jobs.

Em seu "Steve Jobs and the NeXT Big Thing", Randall E. Stross inescrupulosamente chamou a produção local de computadores NeXT de "o empreendimento mais caro e menos inteligente que Jobs já fez". No único ano em que a NeXT geriu a sua própria fábrica de computadores, perdeu dinheiro e interesse público.

Fazer seus próprios computadores foi algo que Jobs buscou desde o início. Nos primeiros dias das operações da NeXT, Jobs tinha um plano bastante sóbrio no qual parte da fabricação seria feita por empreiteiros, enquanto a própria NeXT cuidaria da montagem final e dos testes. Mas em 1986, o perfeccionismo e o desejo de controle perfeito de Jobs venceram, e ele decidiu que sua empresa acabaria assumindo toda a produção automatizada de seus próprios computadores. Era para acontecer diretamente no território dos Estados Unidos.

As instalações da fábrica estavam localizadas em Fremont, Califórnia, e ocupavam mais de 40 mil pés quadrados. A fábrica estava localizada não muito longe de onde os Macintoshes eram fabricados há poucos anos. Jobs teria brincado com a CFO da NeXT, Susan Barnes, que ele havia aprendido com os erros de iniciar a fabricação automatizada para a Apple, para que as operações de fábrica da NeXT fossem tranquilas.

A sombra certa, a direção certa e sem cabides

Parte do trabalho nessa fábrica foi feito por robôs, montando placas de circuito impresso para computadores da NeXTU usando tecnologia atualmente comum na maioria das fábricas ao redor do mundo. Tal como aconteceu com o Macintosh, Jobs queria estar no controle de tudo - incluindo o esquema de cores das máquinas da fábrica, que eram comercializadas em tons precisamente definidos de cinza, branco e preto. Jobs era rigoroso quanto às tonalidades das máquinas e, quando uma delas chegou em uma cor ligeiramente diferente, Steve a devolveu sem mais delongas.

O perfeccionismo de Jobs também se manifestou em outras direções - por exemplo, ele exigia que as máquinas andassem da direita para a esquerda na montagem das placas, o que era o sentido oposto ao usual na época. A razão foi, entre outras coisas, que Jobs queria tornar a fábrica acessível ao público, e o público, na sua opinião, tinha o direito de acompanhar todo o processo para que fosse o mais agradável possível do seu ponto de vista.

No final, porém, a fábrica não foi disponibilizada ao público, pelo que esta medida revelou-se muito dispendiosa e infrutífera.

Mas este não foi o único passo no interesse de tornar a fábrica acessível a potenciais visitantes - Jobs, por exemplo, mandou instalar aqui uma escada especial, paredes brancas em estilo de galeria ou talvez luxuosas poltronas de couro no lobby, uma das quais custou 20 mil dólares. Aliás, a fábrica não tinha cabides onde os funcionários pudessem colocar os casacos - Jobs temia que a presença deles atrapalhasse o visual minimalista dos interiores.

Propaganda tocante

Jobs nunca revelou o custo de construção da fábrica, mas especula-se que seja "significativamente menor" do que os US$ 20 milhões necessários para construir a fábrica do Macintosh.

A tecnologia de fabricação foi demonstrada pela NeXT em um curta-metragem chamado “The Machine That Builds Machines”. No filme, robôs “atuavam” trabalhando com discos ao som de música. Era quase uma imagem de propaganda, mostrando todas as possibilidades que a fábrica da NeXT tinha a oferecer. Um artigo na revista Newsweek de outubro de 1988 descreve até como Jobs quase foi às lágrimas ao ver robôs trabalhando.

Uma fábrica um pouco diferente

A revista Fortune descreveu as instalações de produção da NeXT como "a melhor fábrica de computadores", contendo quase tudo — lasers, robôs, velocidade e surpreendentemente poucos defeitos. Um artigo admirável descreve, por exemplo, um robô com aparência de máquina de costura que monta circuitos integrados a uma velocidade tremenda. A extensa descrição termina com uma declaração de como os robôs superaram em grande parte o poder humano na fábrica. No final do artigo, a Fortune cita Steve Jobs – ele disse na época que estava “tão orgulhoso da fábrica quanto do computador”.

A NeXT não estabeleceu metas de produção para sua fábrica, mas segundo estimativas da época, a linha de produção era capaz de produzir mais de 207 mil placas concluídas por ano. Além disso, a fábrica contava com espaço para uma segunda linha, que poderia dobrar o volume de produção. Mas a NeXT nunca atingiu esses números.

Jobs queria sua própria produção automatizada por dois motivos principais. O primeiro era o sigilo, que seria significativamente mais difícil de conseguir quando a produção fosse transferida para uma empresa parceira. A segunda era o controle de qualidade – Jobs acreditava que o aumento da automação reduziria a probabilidade de defeitos de fabricação.

Devido ao alto grau de automação, a fábrica de computadores da marca NeXT era bastante diferente de outras fábricas do Vale do Silício. Em vez de operários, aqui empregavam-se trabalhadores com diversos graus de ensino superior técnico - segundo os dados disponíveis, até 70% dos empregados da fábrica tinham o título de doutor.

Willy Jobs Wonka

Assim como Willy Wonka, o proprietário da fábrica do livro "O Anão e a Fábrica de Chocolate" de Roald Dahl, Steve Jobs queria garantir que seus produtos não fossem tocados por mãos humanas até chegarem aos seus proprietários. Afinal, Jobs se autodenominou o papel de Willy Wonka alguns anos depois, quando, em seu terno característico, acompanhava o milionésimo cliente que comprou um iMac pelo campus da Apple.

Randy Heffner, vice-presidente de manufatura que Jobs atraiu da Hewlett-Packard para a NeXT, descreveu a estratégia de manufatura da empresa como "um esforço consciente para produzir de forma competitiva por meio de gerenciamento eficaz de estoques de ativos, capital e pessoas". Em suas próprias palavras, ele ingressou na NeXT justamente por causa de sua produção. As vantagens da produção automatizada na NeXT foram caracterizadas principalmente pela alta qualidade da Heffner ou pelo baixo índice de defeitos.

Onde eles erraram?

Por mais brilhante que tenha sido a ideia de Jobs para a fabricação automatizada, a prática acabou fracassando. Uma das razões para o fracasso na produção foi financeira - no final de 1988, a NeXT produzia 400 computadores por mês para atender à demanda. Segundo Heffner, a fábrica tinha capacidade para produzir 10 mil unidades por mês, mas Jobs estava preocupado com o possível acúmulo de peças não vendidas. Com o tempo, a produção caiu para menos de cem computadores por mês.

Os custos de produção eram desproporcionalmente elevados no contexto dos computadores efetivamente vendidos. A fábrica funcionou até fevereiro de 1993, quando Jobs decidiu se despedir do sonho da produção automatizada. Junto com o fechamento da fábrica, Jobs também se despediu definitivamente da busca pela produção própria.

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